VERTIGEM
Não sei bem quando o medo surgiu. Só me lembro de quando não tinha, e depois de quando já tinha. As duas vezes, no Cristo Redentor. Lá no alto, pequena, debruçada na grade, maravilhada com a vista. Alguns anos mais tarde — não lembro quantos —, acuada, me afastando da grade, fugindo de uma força meio que magnética, a gravidade a me puxar para o chão.
Acho que foi culpa de um sonho recorrente. Eu, no prédio da minha escola primária, um ar sinistro, quase macabro. A cada sonho, menos espaço para andar, até que num dos últimos de que me lembro eu me equilibrava em vigas de concreto. Embaixo, escuridão. Acordava apavorada, o coração aos pulos.
O medo se estendeu para os aviões. Voar, antes um prazer, se tornou angustiante. Passarelas para pedestres sobre ruas movimentadas viraram um pesadelo. Sempre me lembro da passarela caindo aos pedaços, o trânsito da Praça da Bandeira embaixo. Eu tentando atravessar olhando para a frente, evitando os carros, aos mãos suando, em contraste com a calma dos demais passantes.
Mas nem é preciso tanto. No metrô, fico o mais longe possível na faixa amarela, pois a tal força insiste em me puxar para os trilhos. Em varandas de apartamentos, puxa os objetos em minhas mãos, tentando arrancá-los de mim. Me afasto, vencida.
Você passa. Ao lado, uma desconhecida para mim. Embaixo, subitamente, escuridão. E o coração, aos pulos.