Da burrice das mulheres: reinvenção da roda (parte 1)
Kamille Viola
De uns tempos para cá eu venho sempre batendo na tecla da burrice das mulheres. Desde um fatídico fim de semana em São Paulo, mais precisamente. A partir daquele dia, venho comentando minha constatação com homens e mulheres e, pra minha surpresa, em geral as pessoas concordam.
No caso das mulheres, admitem a burrice emocional, o fato de não saberem lidar com os sentimentos. Já os homens costumam acreditar numa burrice mais generalizada dos seres do sexo feminino.
Se algumas mulheres sempre souberam da burrice feminina, por que nunca fizeram nada pra mudar isso? Tirando por mim (mea culpa), uma razoável parcela dos seres do sexo feminino acredita ser exceção. São as mulheres que acham que são melhores que as demais, mais inteligentes. Na verdade, são apenas inteligentes em comparação com outras mulheres, o que não chega a ser grande coisa.
E os homens? Por que também nunca se moveram? Eles sempre aceitaram essa condição e pronto, bastava ter dois níveis de conversa: a entre homens, e a entre homens e mulheres.
Eu concordo com o que pensam os homens — o que pra mim foi uma revelação, já era sabido por eles há muito tempo. Mas achar que as mulheres são burras seria machismo? Não acho. Pra mim, na verdade o machismo em grande parte é culpado pela burrice feminina. Afinal, pra quem acha que toda mulher é burra por uma questão biológica, não há nada a ser feito para mudar essa condição. Eu, no entanto, acho que o problema é cultural.
Foi mais fácil perceber isso porque, paralelamente à minha descoberta, eu estava estudando o livro Madame Bovary, do Flaubert. Nele, Emma, uma jovem bem-educada que vive no campo sonha com as maravilhas da cidade grande e da vida moderna. Emma se casa com um médico medíocre e uma vida infeliz. Ela ainda arruma alguns amantes, mas nenhum deles chega aos pés dos heróis dos livros da infância e adolescência dela.
O que assusta é que o livro se passa no século XIX. Dois séculos depois, aqui estamos nós, uma horda de Emmas Bovarys. Crescemos aprendendo a ser superficiais no saber, inseguras, românticas. Daí vêm os grandes males do comportamento feminino. Por mais que sejamos "bem-resolvidas", sempre idealizamos relacionamentos. E a insegurança dá origem ao ciúme excessivo, e também da competição entre mulheres, prática institucionalizada.
Eu acredito que o primeiro passo é a humildade. Reconhecer que nós — todas nós — somos burras e buscar mudar de atitude e, principalmente, de sentimento. Assim vamos deixar de sofrer tanto à toa.