Fim
Em cada rua dessa cidade estranha esqueço um pouco de você. Uma esquina e lá se vão os seus cabelos tão negros. A praça florida e já não consigo lembrar dos olhos que eu quis que fossem os do filho que eu ainda não tive. Perdida na chuva e eu já nem me dou conta de que não é você me dando a mão, não é em você que eu confio mais que nos mapas, ainda que andando quase que em círculos, e quem se importa com a chuva quando já me molhei inteira e mais uma vez não quero que a noite acabe? Fascinada em meio à decoração estranha, a música de filme, o vinho doce, eu já não lembro que essa voz não é sua, essa história não é sua, não é você que depois de dizer que não sabe vai me abraçar com força e querer olhar cada centímetro meu, não é você que vai sussurrar no meu ouvido e dormir nos meus braços. Quando eu pegar um ônibus errado que vai para muito longe e resolver ficar nele - para conhecer melhor esse lugar ora tão feio, ora tão lindo (escolhi que é lindo), mas também por não saber em que dimensão estou -, não é em você que eu vou pensar, onde está, o que sente. Não é um email seu que vai deixar meu coração acelerado cada vez que eu olhar a caixa de entrada depois de horas tentando não pensar nisso. Tão longe já vai estar o seu sotaque, sua tatuagem esquisita, a pele tão lisa, o suor sem cheiro escorrendo. Vou esquecer a música que me lembra você, não vou conseguir rememorar os diálogos que tantas vezes repeti mentalmente. O amor tem um nome que combina menos com o meu e viaja para cidades que eu não conheço e bairros próximos. Talvez eu consiga lembrar de tudo outra vez entre os canais, debaixo da marquise esperando a chuva passar, sua mão apertando a minha como se não quisesse me perder outra vez. Talvez vislumbre o sorriso que eu sabia de cór e note mais uma vez a pinta no seu pescoço que é igual à que eu tenho. Quando você carregar a minha mala até a estação de trem e nós dermos um longo beijo e um abraço apertado, eu posso até pensar: foi isso que eu quis. E pode ser que eu fique um pouco confusa, mas quando você passar dias sem dar notícias e eu só perceber quando você finalmente surgir, aí eu vou ter certeza: acabou.
Uma década, quem diriaEm 10 de dezembro de 2011 o Eu Te Amo Blog comemora 10 anos. Com o perdão do clichê, mas parece que foi ontem! Já venho pensando em algo especial pra celebrar a data, espero concluir até lá. Sei que não tenho mais postado tanto (minha culpa, minha máxima culpa), mas tenho feito uns rascunhos que pretendo melhorar pra postar aqui - embora esse blog tenha sido sempre uma espécie de rascunho, muitos posts começaram antes em cadernos, enquanto eu tava no ônibus, e coisa assim. Muito obrigado a quem acompanha.