Pós-Pop
Facebook
Orkut
Twitter

Nome:

Comentário:

Site

E-mail:





Abba
Branca Por Cruza
Cartas da Sala 666
Contracampo
Cucaracha
E agora, Mary Fe?
El Cabong
Érika Martins
Febre
Fixing a Hole
Garoto Xujo
Homem É Tudo Palhaco
Jana Magalhães
Kung Fu Lounge
Macaco Velho
Magalha
Moidsch
Poça D'Água
Portinhola
Seta Para Cima
Ricotta
Trabalho Sujo
Urbe
Vida Fuleira
Wonderella
Working Class Anti-Hero
Trash it Up


12/01/2001 - 01/01/2002
01/01/2002 - 02/01/2002
02/01/2002 - 03/01/2002
03/01/2002 - 04/01/2002
04/01/2002 - 05/01/2002
05/01/2002 - 06/01/2002
06/01/2002 - 07/01/2002
07/01/2002 - 08/01/2002
08/01/2002 - 09/01/2002
09/01/2002 - 10/01/2002
10/01/2002 - 11/01/2002
11/01/2002 - 12/01/2002
12/01/2002 - 01/01/2003
01/01/2003 - 02/01/2003
02/01/2003 - 03/01/2003
03/01/2003 - 04/01/2003
04/01/2003 - 05/01/2003
05/01/2003 - 06/01/2003
06/01/2003 - 07/01/2003
07/01/2003 - 08/01/2003
08/01/2003 - 09/01/2003
09/01/2003 - 10/01/2003
10/01/2003 - 11/01/2003
11/01/2003 - 12/01/2003
12/01/2003 - 01/01/2004
01/01/2004 - 02/01/2004
02/01/2004 - 03/01/2004
03/01/2004 - 04/01/2004
04/01/2004 - 05/01/2004
05/01/2004 - 06/01/2004
06/01/2004 - 07/01/2004
07/01/2004 - 08/01/2004
08/01/2004 - 09/01/2004
09/01/2004 - 10/01/2004
10/01/2004 - 11/01/2004
11/01/2004 - 12/01/2004
12/01/2004 - 01/01/2005
01/01/2005 - 02/01/2005
02/01/2005 - 03/01/2005
03/01/2005 - 04/01/2005
04/01/2005 - 05/01/2005
05/01/2005 - 06/01/2005
06/01/2005 - 07/01/2005
07/01/2005 - 08/01/2005
10/01/2005 - 11/01/2005
11/01/2005 - 12/01/2005
12/01/2005 - 01/01/2006
01/01/2006 - 02/01/2006
02/01/2006 - 03/01/2006
03/01/2006 - 04/01/2006
04/01/2006 - 05/01/2006
05/01/2006 - 06/01/2006
06/01/2006 - 07/01/2006
07/01/2006 - 08/01/2006
09/01/2006 - 10/01/2006
10/01/2006 - 11/01/2006
11/01/2006 - 12/01/2006
12/01/2006 - 01/01/2007
01/01/2007 - 02/01/2007
02/01/2007 - 03/01/2007
03/01/2007 - 04/01/2007
04/01/2007 - 05/01/2007
06/01/2007 - 07/01/2007
07/01/2007 - 08/01/2007
10/01/2007 - 11/01/2007
12/01/2007 - 01/01/2008
01/01/2008 - 02/01/2008
02/01/2008 - 03/01/2008
03/01/2008 - 04/01/2008
04/01/2008 - 05/01/2008
05/01/2008 - 06/01/2008
07/01/2008 - 08/01/2008
11/01/2008 - 12/01/2008
01/01/2009 - 02/01/2009
03/01/2009 - 04/01/2009
08/01/2009 - 09/01/2009
09/01/2009 - 10/01/2009
10/01/2009 - 11/01/2009
11/01/2009 - 12/01/2009
12/01/2009 - 01/01/2010
01/01/2010 - 02/01/2010
03/01/2010 - 04/01/2010
04/01/2010 - 05/01/2010
05/01/2010 - 06/01/2010
06/01/2010 - 07/01/2010
11/01/2010 - 12/01/2010
12/01/2010 - 01/01/2011
03/01/2011 - 04/01/2011
05/01/2011 - 06/01/2011
09/01/2011 - 10/01/2011
12/01/2011 - 01/01/2012
01/01/2012 - 02/01/2012
12/01/2012 - 01/01/2013
02/01/2013 - 03/01/2013
06/01/2013 - 07/01/2013



 

~ domingo, abril 15, 2007
 
Chego à cidade cinza depois de meses sem pisar aqui. A demora do avião faz parecer mais penoso. Pousamos longe: é preciso pegar um ônibus até onde me esperam. Já é tarde e o céu é opaco, com uma neblina que não é do frio: parece mais a cidade a expirar. A luz de mercúrio se mistura com o cinza-chumbo, num horizonte que não é visto em nenhum outro lugar, só nessa cidade que eu amo-odeio, de onde sinto muita saudade, mas onde não poderia morar - eu preciso sempre voltar pra casa. A cidade insone pra mim é como um namorado de quem de vez em quando a gente lembra com saudade e carinho, mas com quem não pode ficar: vocês se atraem, mas sabem que não combinam.

A cruz de uma igreja é de neon e está meio apagada, como se não houvesse a salvação completa. Um caminho que eu conheço, mesmos túneis e elevados: é como se, a cada vez que eu volto aqui, o tempo continuasse exatamente onde parou quando deixei a cidade. Nada mudou, nenhum centímetro de todo esse concreto. Nem o grafite de 450 anos, comemorados há dois. Ficou me esperando, para então quase me desintegrar, pequena, invisível entre os carros que vão e vêm de todos os lados. Tantas vezes aqui e é sempre um labirinto. Já estou aqui em São Paulo, só não sei onde, diz uma mulher ao meu lado, também perdida no labirinto.

Algumas ruas daqui guardam lembranças cada vez menos nítidas, culpa do tempo. Mesmo assim, me enchem de nostalgia. É como se estivesse num outro tempo, nem o passado, nem o presente: uma dimensão quase inexplicável, talvez algo entre o sonho e o despertar. São Paulo me engole, aqui sou a mais solitária das criaturas, minúscula diante do universo, encolhida pela cidade, um gigante aos meus olhos de menina. Um silêncio profundo, como se só o que eu ouvisse fosse a minha voz interior, ecoando entre viadutos e avenidas.

Entre tantos rostos desconhecidos e alguns familiares, aqui eu imagino por alguns dias como minha vida poderia ser. Deixar tudo pra trás, começar de novo. Minha realidade virtual, com trilha sonora própria e sabores diferentes. Cada vez um lugar que eu nunca vi. Cidade infinita.

Acordei e já é hora de ir embora. O coração apertado: eu sei que não podemos ficar juntos, mas vou sentir saudade de você. Vou esquecer que o trânsito me sufoca, que nem sempre é bom andar por ruas que eu não conheço, que você guarda em seus cantos uma vida que eu sonhei mas não vivi. Só vou lembrar dos risos que eu deixei entre os bares, da alegria infantil enquanto as luzes apagam e acendem na pista de dança. Deixa eu ir embora antes que você me agarre de uma vez e eu venha tentar aqui as respostas que não encontrei. Solta a minha mão, preciso ir. Eu volto, sempre que der eu volto. Mas isso você já sabe.

 

Lay-out por Davi Ferreira