Já não há ninguém na rua, só eu e você. É carnaval, mas ninguém mais está ali. Não há música, homens de chapéu, moças fantasiadas de palhaço, nada: eu e você, que se move em câmera lenta. Já volto, você diz, e eu só penso em um jeito de fazer com que você fique para sempre. O mundo parece entender e permanece coadjuvante, parado e sépia: você é a cor, você é o movimento, você gira. Poderia ficar comigo o dia inteiro que teria a duração de um segundo. E eu agora te conheço há tantos carnavais que sei tudo sobre você e quem fez seu coração quase adormecer de tanta dor, e é por isso que chegamos aqui, entre tantas ruas, de tantas cidades, onde tantas moças querem enterrar lembranças recentes, e encontram moços de sorriso largo e olhar profundo, e às vezes o moço até não percebe na hora, mas sente uma estranha cumplicidade, como se só ela pudesse entendê-lo, e só ela pode, o que faz com que eles consigam conversar por horas e o assunto nunca se esgote, porque é como se tivessem vivido uma vida tão parecida que não poderia restar nada a eles senão juntar as duas vidas numa só, como se isso fosse o que estivessem procurando desde o início, numa rua qualquer onde jazem confetes, serpetinas e lágrimas que nem lembram mais por que derramaram.